terça-feira, 3 de maio de 2011

O Adeus do Pai.

Meu tempo acabou e os longos dias que não te disse nada, hoje me fazem falta. Os pequenos olhos, pés cambaleantes, gestos frágeis, o espanto em seu rosto e a canção preferida que não ouvi. Agora é tarde. Tudo já passou. Os melhores anos, os lindos sorrisos de quem sonha, as declarações de amor em público e os sentimentos confusos.

E o que lembro agora? Os gritos de ajuda que não respondi, a revolta que não entendi e suas lágrimas estalando em meu peito. E ainda estou aqui, enquanto você já foi. E a palidez em seu rosto foi meu mundo sem graça.

É minha vida que cai, o ar que se esvai, no mar do que não foi porque esperei demais.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Pegadas.

Quase sempre me perco enquanto caminho, nessas pegadas incertas, fracas, inconstantes. Lanço-me no desconhecido procurando alento à alma. Vago atrás de outras pegadas que me digam que é seguro andar. Pegada de um porque já respondido, de um alguém saciado, tranquilo. Sem saber eu vou, até perceber seus pés marcados no chão e só pude vê-los, porque pisei indo em outra direção.

Meus pés não pisaram tuas mesmas pegadas, não fui igual a ti, mas cheguei a ti. Pegadas distintas num só caminho, me encontrei ao te deixar ir à frente. Não mais tentei ser como tu e fui eu mesmo em ti.

sábado, 26 de março de 2011

A Liberdade de Minha Prisão ao Teu Olhar.

O que começa por seus olhos enigmáticos não pode ter simples solução, porém, o aperto que me dá no peito, acelerando e distorcendo meus pensamentos cada vez que prendo diante deles só me permite uma coisa: a distração permanente de decifrá-los e cair em cada uma de suas armadilhas. O desdenhar de seu sorriso só inflama o meu peito, tomando-me em uma coragem triunfante, matando dragões e desafiando os deuses, só pra que possa me aproximar de sua boca casta e seu seio juvenil que me são impedidos pela distância que estes obstáculos me levam. Se puder, deitarei serenamente em seus braços esperando o sinal do tempo pra que não tenha mais nada a fazer, nem cansaço, nem medos ou qualquer receio. Minha idéia era passar meus dias, todos eles, ali preso ao seu mundo onde eu finalmente era livre.

sábado, 5 de março de 2011

Canção do teu corpo sobre o meu.


Em órbita sobre tua língua,

Meu coração tua retina,

Teus seios minha perdição,

Que me encontro em tuas pernas,

Nesse sabor de tentação.

Em você deixei o breu

Me tornando todo seu

Vibrando no teu eu

Minhas mãos te devoram:

No lençol, na poltrona

Na barra, babilônia.

Teu cheiro no meu corpo

Num silêncio, num sufoco,

De uma música sem refrão

Bate lento, estremecendo

Meu corpo em flutuação.

Abrindo tuas pernas, tocando tuas coxas

Vulgar a sensação

De andar devagarzinho, tocando teu umbigo

Tamanha satisfação

Tuas mãos me tocando

A paisagem rodando.

Somos fiéis à curtição,

De toda essa loucura

Me derramo sobre a bermuda,

Ouço vozes confusas, que não sabem onde estão.

São todos figurantes, do mundo que não era antes

Dessa nossa canção.

Em que nossos corpos se confundiam,

E tudo estremecia

Na voz em euforia, que ardente me pedia, para em ti ficar.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Gosto.

"Gosto é o suposto provável a se provar
E que se esbalde neste sentir
Para mais sentir e assim gostar.
E de gosto em gosto vem o gozo
De alma cintilante, com aroma cortante ...
Seja da boca, seja do ventre,
Do alpendre firme sobre teu seio,
Só não do teu gosto ausente."

Ausências Ininterruptas.

Falar dessa saudade que me toma acabou por se tornar a minha vida, não que faltasse outros sentimentos e verdades, mas é que quando paro pra destrinchar a caminhada dos meus dias sempre me fica a sensação de que estou em algum lugar que não foi planejado pra ser meu lar.
Em muitas vezes a vida parece-me ser uma exaustiva e angustiante espera para uma eternidade, em busca do reencontro com o que às vezes nem sei o que é. Assim fica a alma encostada sob a parede do tempo, que às vezes não é tão relativo assim e nos expõe à gota-gota da contagem.
Por vezes enxergo esta ausência nos olhos das pessoas, como que estivesse latente a todo ser humano este sentimento de que algo se perdeu. São cortantes as mortes diárias, o apagar castrador de cada esperança, me sentiria melhor se passassem mais rápidos os dias e assim pudesse fechar enfim os olhos e anestesiado cumprir a minha parcela de dor.